Em nosso dia a dia, passamos por infinitas situações, entramos em contato com outras pessoas, trocamos informações, adquirimos conhecimento. E, acredito que assim, vamos nos reconstruindo, nos modificando e nos moldando para sermos indivíduos melhores.
Para o Dia Internacional da Mulher, inicio este artigo com uma descrição simples do cotidiano, mas que me fez chegar a uma palavra de grande significado: sororidade. Aprendi que é com a sororidade que as mulheres se ligam às outras, motivam-se, unem-se, defendem-se.
Conforme explica a feminista e antropóloga mexicana Marcela Lagarde, em seu texto “Definindo Sororidade”, o termo se refere a “uma experiência subjetiva entre mulheres na busca por relações positivas e saudáveis, na construção de alianças existencial e política com outras mulheres, para contribuir com a eliminação social de todas as formas de opressão e apoio mútuo para alcançar o empoderamento vital de cada mulher”.
A partir dessa definição e levando o conceito para a nossa vida, para as nossas relações com outras pessoas – seja no ambiente de trabalho, na escola, em uma roda de conversa ou até mesmo no mundo virtual –, acredito ser possível promover mudanças de forma conjunta. Mudanças femininas, feministas e de coragem; mudanças para a liberdade de meninas, jovens, adultas. Liberdade de sermos o que quisermos ser, de compreendermos as outras e darmos as mãos para auxiliar na caminhada.
Sei que chegar aonde quisermos, conquistar aquilo que almejarmos, ser livres como desejarmos não é fácil. Aliás, nada é fácil. Atualmente, temos vivido momentos difíceis, de contradições, privações e incertezas. Momentos esses que têm se refletido em números assustadores que envolvem violência, discriminação, opressão e exclusão.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que no País as mulheres recebem rendimentos 24,4% menores do que os homens. São ainda as trabalhadoras que dedicam 73% a mais de horas de seu tempo para cuidados ou afazeres domésticos, se comparado aos homens. Mas elas sequer ocupam 40% dos cargos gerenciais no Brasil.
E se o mercado de trabalho é desafiador, o ambiente social ainda é um espaço que, para milhares, é sinônimo de violência. Conforme pesquisa divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), cerca de 4,6 milhões de mulheres foram agredidas no último ano, ou seja, a cada hora, mais de 530 foram vítimas de violência no País.
Esses são apenas alguns dos números que nos assustam, que nos amedrontam. São índices que precisam ser revertidos, precisam ser combatidos. São situações diárias que o corpo feminino enfrenta. Corpos distintos, feitos de vidas, sentimentos, coragem e desejo de liberdade.
Precisamos compreender, sim, que somos diferentes e que essas diferenças não devem nem podem ser tratadas de forma preconceituosa, provocando rejeição, exclusão, violência. É preciso que pratiquemos a sororidade. Que as mulheres possam se enxergar umas nas outras, dar as mãos, se reconhecer em meio a diferenças e entender que, desta maneira, podemos usá-las a nosso favor.
Assim, que neste Dia Internacional da Mulher, possamos, a partir da sororidade, colaborar para a criação de ambientes cada vez melhores para as mulheres, e que esta seja sempre a nossa escolha. Que sejamos uma em muitas para conseguir reverter situações, pensamentos e estatísticas. Que estejamos juntas para transformar, incentivar, contribuir para a liberdade de todas e que cada uma possa ser o que quiser.
Rosana Cavalcante dos Santos
Reitora do Ifac e Vice-Presidente de Relações Parlamentares do Conif