Jornalista recém-formado pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), Gustavo Bicca, de 39 anos, comemora mais uma conquista. O diploma em mãos significa muito para ele que, com síndrome de Down, está acostumado a enfrentar adversidades. “Desafios sempre estiveram presentes na minha vida, porém, tudo se resolve. Eu quero vencer e realizar meus sonhos: trabalhar na minha área e casar”, diz.
Gustavo é ex-aluno do curso de Agroindústria da Escola Agrotécnica Visconde da Graça, atualmente campus Pelotas – Visconde da Graça (CaVG), unidade do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul). Ele lembra que, para frequentar o curso técnico, contou com a adaptação de professores, aulas e provas, sendo muito bem acolhido, mas, depois se interessou pela fotografia, rádio e televisão. Então, ao concluir os estudos, optou pela Comunicação Social.
Atender às necessidades de discentes como Gustavo Bicca é uma das prioridades da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, que atualmente dispõe de Centros de Referência para a Inclusão Social e Produtiva nos campi Manaus (Ifam), São Cristóvão (IFRJ), Uberaba (IFTM) e Bento Gonçalves (IFRS), sem contar com iniciativas pontuais como o Projeto “Diploma Social” do campus Araquari do Instituto Federal Catarinense (IFC).
Casemiro José Mota, que é professor do campus e participou do projeto, explica que foi feito um levantamento tendo como base o saber de um estudante com síndrome de Down. A partir da pesquisa, adotou-se um modelo diferenciado de certificação que – apesar de não atribuir conhecimento pleno, ou seja, o aluno não seria técnico na área que frequentou por não preencher o perfil – traria todo o aprendizado adquirido mapeado e disponibilizado pelo jovem para que outras instituições o recebessem após a conclusão do curso.
“Percebeu-se que o aluno tinha muito conhecimento, porém, se passasse por um exame curricular comum seria reprovado, pois era excelente em muitas áreas e não tão capaz em outras. O projeto teve apoio da instituição e contou com a dedicação de professores, uma especialista contratada para acompanhar o discente, além dos setores pedagógico e assistencial, da secretaria, dentre outros”, relatou.
As iniciativas da Rede Federal em prol da educação inclusiva não se limitam ao ambiente interno. Várias instituições, por meio de projetos de extensão, auxiliam a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) que já soma 2.201 unidades em todo o País, atendendo diariamente cerca de 250.000 pessoas com deficiência intelectual e múltipla.
Um dos exemplos é do Instituto Federal do Tocantins (IFTO). Primeiro, professores e alunos do instituto começaram a se aproximar da Apae de Palmas cuidando do laboratório de informática da Associação; depois, oferecendo o serviço de manutenção de equipamentos e, neste momento, executam o Projeto “Aplicação de Tecnologias Assistivas Digitais no Suporte à Alfabetização de Estudantes Portadores da Síndrome de Down”.
O trabalho faz parte de uma iniciativa maior desenvolvida pelo LabMídia – laboratório de mídias digitais (campus Palmas) onde são estudadas, aplicadas e difundidas tecnologias digitais e ambientes virtuais de aprendizagem de apoio ao ensino.
Segundo o coordenador do projeto, professor Gerson Pesente Focking, estudantes do ensino médio integrado e de graduação desenvolvem ferramentas digitais atraentes e eficientes para ajudar na alfabetização de educandos com síndrome de Down. “É um projeto de extensão que propõe integrar as comunidades acadêmicas do IFTO e da Apae, com o intuito de construir estratégias que combinem as premissas da pedagogia tradicional com os recursos e ferramentas oferecidos pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC´s), especialmente a Internet”, elucidou.
Neste Dia Internacional da Síndrome de Down, o vice-presidente de Assuntos Acadêmicos do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), Flávio Luís Barbosa Nunes, esclarece que a educação inclusiva ainda é um grande desafio para a Rede Federal, porém, mesmo assim, buscam-se formas e iniciativas inovadoras para melhor receber e atender as pessoas com algum tipo de deficiência. “Por muito tempo eles foram preteridos das ofertas de ensino regular, sendo necessário e importante incluí-los, tratando-se de um resgate social”, afirmou.
Nunes, reitor do IFSul, complementa que a educação inclusiva faz parte da natureza da Rede Federal de oferecer mais do que conhecimentos técnicos e científicos, viabilizando uma educação emancipatória com efetivas transformações na vida dos indivíduos. “A educação inclusiva na qual possamos receber pessoas com síndrome de Down está dentro do contexto de qualidade da Rede. Ela é um instrumento para gerarmos oportunidades de novas construções de conhecimento, de novas possibilidades, de novos caminhos, de novas alternativas de autonomia, a partir de uma educação acolhedora das necessidades e desafios que esta parcela de nossa sociedade possui”, declarou.
Dados estatísticos – Segundo dados do Ministério da Saúde com base no Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 270 mil pessoas têm síndrome de Down no Brasil. E, no País, tem aumentado significativamente o número de alunos com deficiência matriculados no ensino regular.
Dia Internacional da Síndrome de Down – A data será lembrada hoje com vários eventos promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O mote da campanha de 2019 é “não deixar ninguém para trás na educação” (leave no one behind in education). O compromisso está alinhado com a agenda de Desenvolvimento Sustável, formada pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030.
Bárbara Bomfim
Assessoria de Comunicação
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