Neste 22 de março, comemora-se o Dia Mundial da Água. Porém, datas, dados e iniciativas ainda não conseguiram reverter uma preocupação mundial: a projeção de finitude de um dos recursos mais importantes para a vida no planeta Terra.
Segundo a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que um bilhão de pessoas careça de acesso a um abastecimento suficiente, definido como uma fonte que possa fornecer 20 litros diários por indivíduo, a um limite de distância de mil metros. Isso inclui ligações domésticas, reservatórios públicos, fossos, poços e nascentes protegidos e a coleta de águas pluviais. (A ONU e a água).
O panorama fez com que a ONU, na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, dedicasse o Objetivo 6 a “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”. Nesse sentido, um subitem dispõe sobre o aumento considerável da eficiência do uso em todos os setores, proposta que vem sendo colocada em prática pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. O recurso é categorizado como um bem de domínio público que precisa ser gerido com consciência por todos.
De norte a sul, de leste a oeste, o engajamento da Rede na temática envolve gestores, servidores, discentes e também influencia a comunidade externa. O Projeto “Reágua” do campus de Caucaia, do Instituto Federal do Ceará (IFCE), é uma solução simples e de baixo custo para o reuso nas escolas.
A ideia partiu das estudantes Nathalia Paula de Oliveira e Abigail Matos do curso técnico em Petroquímica. Orientadas pela professora Aline Santos, elas lançaram a iniciativa que consiste em armazenar e utilizar o líquido residual dos bebedouros. Segundo o estudo feito pelas jovens, 1.010 litros são desperdiçados por mês em um campus com pouco mais de 400 alunos.
“Criamos um reservatório que pode ser feito de diversos tipos de material e que fica acoplado ao bebedouro, então a água não consumida cai no recipiente e pode ser utilizada para irrigação, pela construção civil e na lavagem de ambientes”, explica Nathalia. Abigail espera que a ideia, fruto de um projeto extracurricular seja utilizada, ou mesmo adaptada, em outras instituições.
De Caucaia até o campus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG), percorrendo mais de 2.000 km, tem-se um exemplo de eficiência energética, que é gerar a mesma energia com menos recursos naturais, ou seja, ao evitar o gasto excessivo com luz, consequentemente, poupamos as usinas hidrelétricas.
No ano passado, foi instalada na unidade a árvore solar – uma palmeira metálica de 11 metros cujas dez folhas têm painéis fotovoltaicos que transformam a luz do sol em energia, gerando 714 kW/mês, o equivalente ao consumo médio mensal de cinco famílias com quatro pessoas. A árvore faz parte do Projeto de Eficiência Energética do campus, viabilizado pelo convênio entre o instituto, a Enel Distribuição Goiás e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que prevê ainda a instalação de aproximadamente 700 placas fotovoltaicas nos telhados dos blocos, substituição do sistema de iluminação convencional por lâmpadas de LED, aquecimento solar da água e ações de pesquisa. A previsão é de que o IFG alcance uma economia de energia elétrica em torno de 80 e 90%.
De Goiânia a Santa Tereza (município capixaba) são pouco mais de 1.300 km, para constatar que, se por um lado existem medidas preventivas motivadoras, por outro, as emergenciais, da mesma forma, fazem a diferença e inspiram.
Há quatro anos, o Espírito Santo enfrentou uma das piores crises hídricas da sua história, então todos os setores foram convocados a mudar hábitos e cooperar. Diante do quadro e considerando a quantidade de aparelhos de ar-condicionado em funcionamento no campus Santa Tereza do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), o professor Elvis Pantaleão Ferreira e as alunas do curso técnico em Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio Karine Carvalho Machado, Izaiane Pereira da Silva, Ana Beatriz Mamedes Piffer e Paloma do Sacramento de Carli lançaram o Projeto “Atitude Sustentável”, tendo como referência a Portaria Interministerial nº 244, de 6 de junho de 2012, que instituiu o “Esplanada Sustentável”, proposta que incentiva a Administração Pública Federal a adotar boas práticas para a sustentabilidade ambiental.
O grupo apurou que existiam 150 aparelhos de ar-condicionado de diferentes potências em utilização no campus, de 7.500 a 80.000 BTUs*, e constatou que a produção de água por condensação era de 172.780,72 litros por ano letivo. Como o campus tinha um consumo de 420.600 litros anuais, seria possível atingir uma economia de 41,08%.
O projeto começou experimentalmente em um dos prédios do Centro Tecnológico do campus e, desde 2016, alcançou outros setores – biblioteca, administração, centro pedagógico, laboratórios e alojamento masculino.
Segundo o docente, como unidade demonstrativa para visitas técnicas, o campus já recebeu representantes de prefeituras e escolas municipais interessadas em conhecer e aplicar o sistema. A iniciativa é adotada no Brasil por outras escolas, centros comerciais e algumas indústrias, e em áreas residenciais de Abu Dhabi (capital dos Emirados Árabes Unidos), porém não supre a carência de uma política pública mais consistente no nosso País.
“Cabe destacar que ainda não existem políticas públicas nacionais que incentivem a coleta e o uso de água proveniente de aparelhos de ar-condicionado, no sentido de perfazer demandas menos exigentes e que, de fato, representem uma postura socioambiental responsável. Apenas em Porto Alegre e no Rio de Janeiro leis municipais disciplinam o gotejamento desses equipamentos nas vias públicas, mas nada se diz a respeito de boas práticas de uso dessa água”, acrescentou.
Dia Mundial da Água – A data foi instituída pela ONU através da resolução A/RES/47/193, de 21 de fevereiro de 1993, e também marcou o anúncio da Declaração Universal dos Direitos da Água. O documento apresenta, dentre as normas, que a água faz parte do patrimônio do planeta; que os recursos naturais de transformação para sua potabilidade são lentos, frágeis e muito limitados; que o equilíbrio e o futuro dependem da preservação da água e de seus ciclos e que sua utilização implica respeito à lei.
Nesta semana, a Agência Nacional de Águas (ANA) promoveu em Brasília o evento “6 Anos de Crise Hídrica: Lições Aprendidas e Perspectivas Futuras” com o intuito de debater as lições das crises hídricas vivenciadas pelo Brasil nos últimos anos, além de apontar alternativas futuras para a tomada de decisão relacionada a secas e cheias.
Nesta sexta-feira, 22/3, pela internet (redes sociais e site), a Agência realiza o lançamento da publicação “ODS 6 no Brasil: visão da ANA sobre os indicadores”. A transmissão marca o encerramento da campanha #AÁguaéumasó.
Site da ANA.
*BTUs – Acrônimo de British thermal unit (unidade térmica britânica), o BTUs é uma unidade de medida não métrica utilizada principalmente nos Estados Unidos, mas também no Reino Unido. A sigla se refere a uma unidade de potência de refrigeração dos aparelhos de ar-condicionado.
Bárbara Bomfim
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